O Sol
Santíssimo
Sacramento
À talentosa poetisa
Maria Angela
Duas dúzias de homens na empreitada,
Logo na alvorada, uns mouros de trabalho.
Homens como eu…. seu ganha-pão a enxada
E de noite uma manta como agasalho.
Homens dizem… sem ideal e sem esperança,
A vegetarem no mundo, escravos d’um feitor,
Homens como eu… a alma na bonança,
Criados como os outros para a paz e para o
amor.
Era fria a manhã e a geada forte
…. Cobertos de brancura os montes do meu
Douro –
Quando um raio de sol, partindo d’um conforte
Fez cintilar na terra uma faísca d’ouro.
Então eu vi os homens, crentes sublimados,
N’um impulso só, todos n’um momento
Descobertos saudarem como poetas consagrados
De voz em grita… o Santíssimo Sacramento.
Olhei em volta… nem padre nem sacrista,
Nem pálio, nem nada àquela hora.
Nenhuma capa vermelha alcançou a minha vista,
Nem ouvi a campainha tocando ao Senhor fora.
Descoberto enfim esse Deus consagrado
Saudei também cheio de sentimento,
Esse Senhor
fora a despontar sublimado
Na Hóstia rubra…. o Santíssimo Sacramento.
Republicado em Dezembro de 2016, no livro “Entre Montes”, Crónicas do Maga 1900-1904, de José Perfeito de Magalhães de Villas-Boas (Alvellos).
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